Nana possuí uma premissa bem simples: duas garotas com personalidades distintas, porém com o mesmo nome e mesma idade se encontram no mesmo trem indo para Tóquio, elas rapidamente se aproximam e por coincidência acabam dividindo um apartamento na cidade enquanto tentam lidar com todos os problemas da nova vida adulta. 

 Não há nada de sobrenatural ou completamente fora da realidade no enredo, porém a obra de Ai Yazawa segue conquistando fãs e admiradores há mais de vinte anos com o mangá em hiatus desde 2009 vendendo mais de 40 milhões de cópias, e o anime finalizado em 2007 com 47 episódios pela Madhouse Studios, que inclusive foi adquirido pela Funimation e está prestes a ser lançado em HD. É fácil dizer que Nana se tornou um clássico não só do shoujo (tipo de mangá comercializado para o público adolescente feminino) mas também de toda a indústria midiática japonesa inspirando uma geração de mulheres que até então praticamente não se viam bem representadas em lugar algum. 

 Com toda a certeza o especial da obra está na construção das relações e no emocional das protagonistas, girando em torno dos altos e baixos de Nana Komatsu e Nana Osaki, ambas com modos de vida, projeções de sucesso e personalidades bem diferentes, mas que ainda assim são capazes de se entender e de criarem uma forte conexão o que acaba as mudando as pra sempre. Elas se encontram buscando a própria independência e enquanto isso levam um grande choque de realidade, a tomada de consciência de que seus sonhos e planos possivelmente não se realizarão e de que o simples ato de amar alguém não é suficiente para manter um relacionamento se dá de maneira dolorosa para elas e consequentemente para telespectador, já que amadurecer é um processo universal. 

 É importante lembrar também da riqueza presente nas artes e no visual, tanto do anime quanto do mangá, já que Ai Yazawa possuí um traço único e costuma colocar muito de seus próprios interesses nas suas obras constantemente citando a contracultura e o movimento punk, por exemplo Nana Osaki que é a vocalista do BLAST, uma banda punk que vai para Tóquio justamente para tentar alcançar a fama. Há inúmeras referências no decorrer da obra ao Sex Pistols, inclusive um dos personagens foi desenhado com base no Sid Vicious, e a Vivienne Westwood importante estilista da época, tudo isso junto com uma trilha sonora incrível adicionam uma camada especial a obra que com certeza é capaz de conquistar qualquer um que seja interessado no assunto. 

 Nana abrange tópicos até hoje delicados para a cultura japonesa e que estão constantemente em pauta na sociedade ocidental, tais quais: sexualidade, saúde mental, amadurecimento, desejo sexual, papel tradicional da mulher na sociedade, busca por independência e aborto, tudo isso com a naturalidade e seriedade necessária. É impossível assistir e não se identificar com pelo menos alguns dos dilemas e dramas vividos pelos personagens já que são tão reais e isso faz com que criamos uma identificação e apego emocional ao que está sendo retratado. 

 Não é à toa que tanto se fala sobre representatividade na mídia, se sentir bem representado, sentir que seus problemas e dificuldades são reconhecidos e vividos por outras pessoas é consequentemente sentir que sua existência é válida e isso Nana faz com maestria, dando voz a múltiplas realidades e pensamentos, representando as vivências de diversas mulheres e é exatamente esse o motivo do seu sucesso. Nana abriu espaço para diversas discussões mostrando que o público feminino no Japão quer sim consumir um conteúdo que tenha um diálogo direto com elas e tudo isso faz com que a obra ainda tenha uma importância muito grande, mesmo após todos esses anos. 

Infelizmente não encontrei nenhum trailer oficial, mas recomendo muito esse episódio do podcast Otaminas, a primeira parte é sem spoilers e aprofunda bastante esta discussão.