Escrever é o que me mantém vivo. Palavras colocadas no papel me fazem compreender o mundo onde estou inserido, ou pelo menos, não enlouquecer nele. A falta me faz mal, à falta me tolhe. Sendo extensão do meu eu, através dos textos, sinto coisas que não sinto de outra maneira. Um prazer indescritível, um senso de realização que me preenche o ser e faz eu sentir que tudo tem um sentido. Um lápis e um papel, um monitor e um teclado, uma noite e várias horas, meus maiores companheiros de jornada. E por fim, e não menos importante, eu mesmo. Sentado para escrever reflito sobre tantas coisas que eu poderia escrever um livro só sobre minhas viagens mentais, porém são rápidas demais para serem lembradas e quando vejo, já estou escrevendo.

 Parece redundância escrever sobre escrever mas só estou dando os devidos agradecimentos a esta habilidade que me foi dada pelo altíssimo, a de colocar no papel aquilo que minha mente tem dificuldade de compreender e entender os porquês.

A certeza que trás é a de que com isto estou desenvolvendo algo que não conseguiria de outra forma, não sei o que é, mas é um algo que faz eu ser quem eu sou. Já pensou nas ocasiões que você pode simplesmente ser você? Um texto me trás isto, a liberdade e a criatividade de ser eu, criar mundos, criar pessoas com sentimentos que para mim significam muito e criar realidades que ainda não vivi e talvez não viverei, mas qual é a diferença entre a realidade e um texto? No fim, o texto é eterno e através dele posso criar milhares de situações e na realidade tenho uma situação pensada de milhares de formas quando com o tempo eu passar a esquecer. Com o tempo tendemos a esquecer as coisas, mas como esquecer aquilo que está registrado para sempre?

Escrever é ter uma conversa comigo mesmo, é estar constantemente lendo a mim e me entendendo para formar histórias. Histórias essas pensadas por mim mas que deixam de ser eu e tomam sua vida própria, e então, mesmo que sejam obras minhas, já não pertencem mais a minha pessoa. Uma sensação de ter um outro eu que sempre vai coexistir comigo e que é ele que escreve. Sou eu, mas é ele que escreve. Este mesmo ele faz com que eu seja quem eu sou hoje, cada vez mais perto de me tornar eu mesmo. Um extravaso, um sopro de vida.

Durante um processo de escrita tantos eus se constroem e depois é saber desconstruí-los e saber dividir as realidades. A minha aqui, a dele lá, talvez eles nem vivam mais. Idas e vindas, palavras belas e bem vindas. É o prazer de visualizar aquilo que não consigo apenas pensando, é o prazer de mostrar para os outros aquilo que eu sou. 

Penso, penso, penso e ainda não entendo. A escrita me forma. Um lugar sem julgamentos, um lugar que quero estar todos os dias, todos os momentos, um lugar de loucura. A minha loucura. A loucura que me move. Essa extensão sensacional que me faz não enlouquecer, já que nela sou completamente doido. Sempre serei eu, e verão isso. Escrevo para ser visto, uma vista turva talvez, mas ainda assim estou sendo visto. Penses o que quiseres de mim. 

Novos eus vão se formando, dessa vez não são os que mencionei ainda pouco, mas são aqueles que comigo vivem a todo momento, que a todo momento mudam e que fazem com que eu não seja normal. Novos eus ou novos sopros de esperança? Novos eus ou turbilhões de pensamentos?

Escrever me faz pensar e pensar me faz existir. Me faz não ter medo de ser eu mesmo. Me faz apenas ser. Gosto de apenas ser. Queria ter um estado de espírito, mas meu espírito não tem estado por aqui. Antes estava tudo estranho, agora está tudo bem.