Na verdade eu não sei quando eu sei que estou amando. Não sei como começa, não sei como termina. Não sei de onde veio, não sei para onde vai. Por muito tempo ele fica, por muito tempo ele se vai e quando volta não faz questão de tirar satisfação. Há tanto tempo não sei se sinto e há tanto tempo não sei se deixei de sentir. Ele vai, ele volta, ele faz o que quiser e então eu descubro que na verdade sou totalmente refém porque eu mesmo não sei de nada e eu mesmo não posso nada. No final não sou eu quem manda em mim e sim ele porque verdadeiramente ele é quem é o dono do meu coração. E então eu faço tudo que ele manda e ainda assim quando foge de mim por perceber que me tornou obsessivo, eu corro atrás dele como qualquer bom ser humano egoísta que não quer perder o que é seu por direito. Então ele volta, brinca comigo como se fosse nada, me machuca, me alegra, me diverte, me entristece, me encanta. E então ele se vai novamente, me trazendo a dor e a solidão e o que me resta é o amor próprio. O que será que ele ganha com essa brincadeira? O que eu ganho com essa brincadeira? Então me trás o receio e com sua ida, esqueço toda a beleza que me trouxe. Será que eu o quero novamente?
Me revolto com todas minhas forças, nego o quanto eu posso. Porque eu aceitaria algo que me trás e me tira sem mais nem menos? Uma negação descabida, uma proporção desbalanceada. Se antes eu corria atrás por obsessão, agora eu fujo por egoísmo. Não quero que nada me fira. Com sua ida, esqueço toda a beleza que me trouxe.
Mas sei que não é sua culpa. Inconscientemente ele cria o caos e a beleza, me faz ver o céu e o inferno, tudo em uma coisa só. Se ele vem ou vai, não depende de mim, e quando eu menos espero… decide voltar. E lá está ele batendo na minha porta novamente e eu o recebo como se nada tivesse acontecido. Um perdão instantâneo. O que eu posso fazer? Se ele bate eu abro. Uma sensação que domina, e quando entra já não me dou conta mais da realidade… parece um sonho. Tudo fica tão diferente, tudo fica tão encantado que começo duvidar cada vez mais da realidade, essa beleza é real ou é uma ilusão? A negação se dissolve e sinto um deleite, logo a sensação de me jogar no vazio volta novamente e relembro como o desconhecido pode ser excitante. A incerteza me brinda com um sorriso e me divirto novamente com jogos que não posso ter certeza que vencerei. A roleta da paixão novamente gira e meus olhos brilham ao brincar com a sorte da certeza e da incerteza. A ilusão de estar próximo de algo tão incrível mesmo sabendo estar longe contagia o dia a dia. Me encanto com tudo, me divirto com todos. Talvez eu nunca alcance meu objetivo, mas só sua presença faz com que a caminhada valha a pena. Uma sensação atrás da outra, sempre em busca de mais. O vislumbre das cores se torna mais nítido e percebo que algo está diferente. Uma percepção diferente. Novas coisas me atraem. Corro e brinco no parque das sensações e escorrego no tobogã das paixões. Sou eu ou é o mundo? E mesmo que uma hora ela passe, aproveito cada instante pois cada vez que sinto sua presença é apenas uma correnteza no mar da eternidade. Um segundo que num piscar de olhos se vai e então… é como se eu acordasse. E ao acordar logo penso , “a paixão me pertence ou eu pertenço a ela?” E aí, fica esse eterno dilema da paixão.