Que bela tarde! E lá estava Pedrinho, que também era um belo rapazinho. Pedrinho que acabará de completar seus 6 anos de idade, estava muito contente pois naquela tarde ele e seu pai haviam saído a passeio. Como um dos presentes de aniversário de Pedrinho, seu pai prometerá a ele um passeio ao Museu das Artes Modernas já que Pedrinho adorava artes. Era diferente dos garotos de sua idade porque a maioria não se interessava pelo que Pedrinho gosta.

-Papai, a gente tá chegando??

-Como nas últimas 5 vezes que eu te respondi, sim meu filho -Respondeu o pai de Pedrinho meio impaciente.

Pedrinho que percebeu que seu pai estava ficando impaciente disse pulando várias vezes em sua cadeirinha:

-Desculpa papai, é que eu to muito ansioso, não vejo a hora da gente chegar!!

-Tudo bem, filhão. Mas é que o trânsito também não colabora, estamos a quase meia hora no mesmo lugar. Mas veja filho, pelo menos já conseguimos ver o Ibirapuera!

Então como se ascendesse uma lâmpada em sua cabeça, o pai de Pedrinho teve uma ideia.

-Já sei! Vamos brincar de “Eu vejo com os meus olhinhos”, assim a gente se diverte e quando percebermos já vamos estar dentro do parque se preparando para sair do carro.-Disse aliviado como se tivesse achado a solução para o seu problema.

-Obaa, vamos sim papai, é vamos sim! – Falou batendo palmas de contentamento como se estivesse satisfeito com a decisão do pai.

-Beleza, então eu começo. Hmm deixa eu ver… deixa eu ver… Já sei! Eu vejo com meus olhinhos, vários retângulos marrons um do lado do outro com vários algodões doces verdes em cima deles!

Pedrinho que por estar alto na cadeirinha dele, conseguiu ver o rosto do pai através do retrovisor e olhando pra mesma direção que o pai estava olhando descobriu a resposta, mesmo está sendo óbvia.

-Essa foi fácil papai, é, muito fácil! Na próxima você tem que escolher alguma coisa mais difícil. A resposta é árvore! – diz Pedrinho batendo palmas novamente e pulando sentado de alegria.

-Você que é muito esperto, filhão. Sua vez.

-Tá bom papai. Hamm, hmm, deixa eu v… – Pedrinho então olhou um pouquinho para baixo das copas das árvores, percebeu que ali estavam dormindo pessoas de baixo de farrapos e papelões, e meio sério ,seguiu – Eu vejo com meus olhinhos, pessoas esquecidas pela sociedade. Pessoas que não tem aonde morar, não tem garantia que iram comer todos os dias, não tem amigos, que possivelmente não tem família, quiçá uma roupa decente para cobrir o corpo. Vejo pessoas que por falta de oportunidade estão onde estão. Pessoas sem saídas. Sem meios de pedir ajuda. Sem meios de mudar. Pessoas que não estão ali porque querem, mas porque a vida foi dura com elas e as levou a isso. Pessoas tristes, sem esperança. Mas nem sempre papai, alguns estão aí por causa de vícios , porque da mesma forma que o álcool evapora quando tocam nas garrafas, seu dinheiro também desaparece para usarem com drogas e bebidas. Estes papai, são cegos que apesar de poderem ver, não veem nada além dos seus próprios vícios. E poucas, mas não zero, pessoas que estão aí por vontade própria, pessoas que como mariposas foram atraídas a isso. Mas papai, também não posso julgar, o que eu digo é o que eu acho mas não o que é de fato. Não sei os verdadeiros motivos que os levaram a isso, não sei o que eles fizeram ou deixaram de fazer para chegar nesse ponto, e eu se estivesse no lugar deles, não gostaria de ser julgado por alguém que não sabe minha história e o que eu passei. Mas também não devemos julgar papai, porque eles são gente como a gente.

-Acho que você vê moradores de rua né? Não quero mais brincar disso… vamos… vamos só ouvir a rádio mesmo.