Com frequência, comenta-se que a geração de adultos atuais é a mais psicologicamente abalada desde o nascimento da psicanálise. Entretanto, este comentário não é amplamente conhecido, uma vez que as pessoas à qual são retratadas neste tipo de fala não têm noção do seu próprio problema. A falta de educação emocional nas escolas não acompanhou a revolução tecnológica do final século XX a XXI, mas deveria, logo que a maior causa da síndrome do burnout é a autocobrança excessiva e ela, por sua vez, derivada geralmente de trabalho de escritório e uso das redes sociais – ambos provenientes do uso de telas.

  A sociedade do cansaço é consequente à positividade, enunciado metafórico defendido contemporaneamente para passar a ideia de autossuperação, já que esta imposição social gera a autodestruição do indivíduo que busca incessantemente pelo sucesso positivista. Esta tese está diretamente ligada ao desenvolvimento tecnológico das últimas décadas, pois o avanço da robótica fez com que esta engenharia sistemática mudasse o foco do mercado trabalhista para outro ramo, um ramo que depende das telas, o uso de computadores – vale ressalvar que não foi uma consequência repentina, na verdade, a Quarta Revolução Industrial ainda está acontecendo. Esta mudança no modus operandi do mundo de trabalho apoiada pelo slogan positivista trouxe ao mundo o burnout, pois:

 As pessoas que desenvolvem burnout são pessoas engajadas com um futuro profissional e comprometidos com certos valores que desejam pôr em prática e, justamente, o fracasso e a perda desse futuro gera desilusão e uma consequente perda do comprometimento, dando lugar à sintomatologia de burnout. DE CASTRO, Fernando Gastal; ZANELLI, José Carlos (2007).

  Isto retoma-nos à tese inicial sobre a educação, porque, se o conhecimento do seu próprio emocional fosse lecionado nas escolas naquela época, os adultos de hoje teriam mais noção sobre sua autocobrança excessiva e consequências desta; logicamente, esse problema não seria atrelado como nome da geração junto à ansiedade. Segundo Ana Rita Cardeira (2012), psicóloga educacional licenciada pelo Instituto Superior Dom Afonso III, pessoas emocionalmente inteligentes são capazes de adiar a recompensa, adequando comportamentos a contextos específicos.

  Contudo e ademais, o viés positivista, caso exposto, traria ao senso crítico dos indivíduos a chance de ter uma cosmovisão do cenário social contemporâneo. Essa noção geraria um descontentamento – defendido na psicanálise –, logo, a ideia de autossuperação seria derrubada. Isso traria o possível fim da sociedade 24/7, e isto não é de interesse burguês, porque ter trabalhadores excessivamente focados é sinal de alta produtividade ininterrupta – exatamente ininterrupta, pois o capitalismo tardio, etapa vivida por essa doutrina socioeconômica atualmente, traz consigo os fins do sono.

  A partir dos pontos analisados, é possível observar os problemas trazidos pela tentativa de saciação dos interesses burgueses. O burnout é um problema intrínseco do cenário atual e ele deve ser evitado. Infelizmente o timing para evitá-lo foi perdido, mas a educação emocional já está sendo, aos poucos, introduzida ao senso comum. As redes públicas de educação básica já possuem serviços de psicologia para alunos e profissionais, e o SUS (Sistema Único de Saúde) garante atendimento psicológico; porém isto está longe de ser o final. Por mais que psicólogos estejam ao alcance da maioria por meio das escolas e da CAPS (Centro de Atenção Psicossocial), isso ainda não garante a ampla educação emocional, muito menos atendimento universal – não há CAPS em Nova Trento—SC e Brusque—SC só atende dependentes químicos. Sendo assim, é necessário que haja a exposição deste problema – como a feita pela comunicadora Lara D’Ávila – para que surja demanda e assim a implantação ainda mais vasta deste serviço público. A arrecadação de fundos para a realização desta meta seria dada por meio de uma taxação efetiva, ou seja, taxando a classe média-alta e superior.

Texto por: Filipi Scalvin da Costa.