Sant, Gog, Sid, Nissin e Brazza.

Brasil colônia, foi uma música lançada no ano de 2018, em meio das eleições. A mesma é composta por vários artistas, sendo eles, Nissin, Fábio Brazza, Sant, Sid e Gog, e foi produzida por Pedro Lotto e Paiva. A música surgiu em protesto aos acontecimentos políticos daquele ano e também a todo sistema brasileiro.

“Guerra de Cabral
Quem descobriu o Brasil não foi Portugal
Meritocracia sem ensino fundamental” -Nissin.

Já nos primeiros versos, vemos uma dura crítica referente a educação pública em nosso país. A educação no Brasil é extremamente desigual, levando em consideração que as únicas pessoas que conseguem de alguma forma ter acesso a educação de qualidade sem nenhum problema, são aquelas que podem pagar pela mesma. Segundo o PISA-Programa Nacional de Avaliação de Estudantes, o Brasil se encontra entre os 20 primeiros países em quesito pior educação, a frente de muitos que possuem menos investimento na área, mas mesmo assim conseguem fazer um aproveitamento melhor.

Meritocracia, seria uma organização social que defende o mérito, isso é, o merecimento de alcançar algo, na educação, geralmente o merecimento de passar em faculdades e provas. Mas o que acontece, é que a meritocracia se torna sinônimo de desigualdade, uma vez que, que nem todos tem o mesmo acesso à educação, a mesma qualidade de ensino, e muito menos tratamentos e oportunidades iguais. O Brasil é um dos países mais desiguais do mundo, e ainda querem que pessoas de classes socais baixas, tenha o mesmo resultado de quem estudou a vida inteira em escola particular. A educação é um direito de todos, e o mínimo que deveríamos ter, seria um local e educação adequada.

“Assassinatos seguem padrões de cores
Pensamentos francos e Marielles Franco atraem franco atiradores”-Brazza.

Nos dados da ONU-Organização das Nações Unidas, a cada 23 minutos morre um jovem negro. Sendo assim, a população negra do pais tem uma alta chance de mortalidade. Isso acontece pela desigualdade social, e pelo racismo estrutural presente em nossa sociedade. Nos versos, Brazza cita o caso de Marielle, que foi brutalmente assassinada, e até hoje, não ocorreu justiça por ela. Mas podemos citar inúmeros casos, de crianças e adolescentes sendo assassinadas dentro de casa e nas escolas. A população preta não é somente assassinada fisicamente, mas sim em todo seus cenários. Suas culturas são negadas e ridicularizadas e por conta de sua pele, suas vidas são negligenciadas.

“Queimaram arquivos, motivos
Queimaram motivações e ainda estamos vivos
Mas queimaram meus ancestrais, veneno nos livros
O que já foi, não volta, mas quem disse que já nos livramos disso?”-Sant.

No dia 2 de setembro de 2018, o Museu Nacional, localizado no Rio de Janeiro, pegou fogo, depois do esquecimento do poder público. Quando todos os arquivos são queimados/escondidos/rasurados, é uma maneira de apagar a história, apagar principalmente a história do nosso povo. Precisamos ter conhecimento sobre isso, para que agora e no futuro não cometemos os erros do passado. A cultura negra e indígena sempre foi tentada ser apagada, para que os mesmos não tivessem voz. É por isso que falamos de cultura sendo negligenciadas, pois elas não têm espaço. Atualmente é muito fácil encontrar nos jornais, notícias de pessoas que não conseguiram vagas de empregos por conta de seus cabelos crespos. É disso que estamos falando de cultura ridicularizada, de religiões de descendência africana virando motivo de piada.

“Eu já não consigo mais ver a diferença dos dias de hoje pra 64
A ditadura continua aqui
Eles só falsificam a liberdade, mudam a tinta e trocam as bordas do quadro
E é tanto enquadro dentro das rodas de rima
Que a nossa revolta faz o RAP ser inadequado”-Sid.

A perda de direitos ainda está em ascensão nos dias de hoje. A ditadura se infiltra e se disfarça. Obviamente, ela não é igual em 64, mas hoje em dia vivemos com uma falsa sensação de liberdade. A grande mídia lidera movimentos e controlam os cidadãos, fazendo-os entrar em um debate sem fim, principalmente sobre movimentos políticos. A história de uma certa forma se repete, pessoas são caladas com tiros, artistas são calados com censura, e o estado intervém de uma forma militar violenta.

O RAP sempre foi visto de uma maneira ruim, como um movimento de negros e pobres, e nunca foi dado a devida atenção, porque os que participam, nunca tiveram espaço no cenário musical. O rap, nunca foi em grande escala nos veículos de comunicação, as batalhas de rimas são descriminadas e os MC são tratados como marginais. Muitos alegam que o rap fala de uma forma imprópria, mas diante de toda situação e todo o cenário, é de causar revolta. De fato, o governo tem medo de ser contestado, o governo tem medo de gente inteligente que sabe falar, o governo tem medo de representatividade.

“Me fizeram decorar, mas jamais amar o hino”-Gog

A população brasileira infelizmente gosta de se espelhar na cultura de fora, principalmente americana. Se espelhar em coisas boas, para trazer melhorias não tem problema, isso é até bom, pois só contribuem. O problema é quando isso passa para primeira fonte de consumo. Toda nossa cultura é desvalorizada, pelo nosso próprio povo. Podemos ver isso no consumo de música. Quantos artistas de fora são valorizados? E aqui, quantos são esquecidos? O próprio brasileiro odeia o Brasil. Temos artistas extremamente talentosos em nosso pais, e eles são simplesmente ignorados, por uma massa de comunicação igual vindo de fora.

Nas palavras de Jayme Caetano “Parece até brincadeira, que um país com essa potência, viva em tamanha indigência. Frente a tanta bandalheira, a impunidade é a bandeira. E cada qual é mais vivo, o processo punitivo, é instalado e difundido. E depois de concluído. Vai direto pro arquivo. ”

De fato, o Brasil está doente.

Você pode encontrar os artistas por: @nissinmc; @fabiobrazza; @originalsant; @mc.sid; @GOGPoetta;

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