Não é preciso estar atento a indústria musical para notar a volta do pop punk (tão popular nos anos 2000 contanto na época com artistas como Avril Lavigne e My Chemical Romance) principalmente com o sucesso recente do single ‘Good 4 U” da nova queridinha da indústria Olivia Rodrigo e do lançamento de “t r a n s p a r e n t s o u l” de Willow Smith que abraçou a estética punk para sua nova era. Esse fenômeno não se aplica só a indústria americana, mas também é possível ser identificada na Europa com a fama de artistas como Yungblud que se mantém fiel ao gênero desde 2018 e os italianos Måneskin que foram vencedores do Eurovision em 2021, uma competição internacional de música que reúne toda a Europa.

Vamos primeiro relembrar que a cultura punk nasceu nas ruas do Reino Unido e em Nova York na casa de shows CBGB em meados da década de 70 como uma oposição a cultura hippie e fruto da insatisfação de uma nova classe trabalhadora e de minorias com o sistema, era acima de tudo um movimento político com ideias anarquistas e socialistas que refletiam diretamente na moda e na música desses jovens. As bandas e artistas eram símbolos da cultura que com o tempo se espalhou pelo mundo e lançou nomes que até hoje são considerados ícones na indústria musical, tais quais: Sex Pistols, Ramones, The Clash e Bikini Kill.

O movimento se apaziguou em meados dos anos 80 depois de ter seus ideais difundidos, e acabou dando lugar ao post-punk, e depois ao New Wave se tornando muito mais fácil de ser comercializado. Porém o legado do punk segue vivo, principalmente sua estética e suas músicas, que de tempos em tempos volta a cair nas graças do público, principalmente entre os mais jovens, mas sem necessariamente se importar em colocar toda a questão política e social de volta em pauta, ao invés disso focam muito mais no apelo comercial e não buscam “sair da linha” muito menos criticar o sistema.

É inegável que grande parte do punk é baseado em sua estética, Sex Pistols por exemplo foi uma junção do empresário Malcolm Mclaren que na época tinha uma boutique chamada Sex com a sua esposa e estilista Vivienne Westwood, que é até hoje um dos maiores nomes na moda sendo referência no estilo punk, ela buscava subverter a moda e utilizava acessórios fetichistas, lingeries como peças principais e gostava de usar silhuetas tradicionalmente femininas para peças masculinas e vice e versa, Vivienne passou a cuidar da identidade visual da banda e mais tarde a vestir outros artistas.

Porém conforme o punk se alastrou e foi com o tempo se tornando mainstream muito da sua essência também se perdeu, se antes era sobre reutilizar materiais, comprar tecidos baratos, encontrar novas maneiras de se usar uma peça e não ter medo de remenda-las ou as usar com alfinetes, agora se tornou completamente comercializável com as roupas sendo vendidas prontas e novas, em massa nas grandes lojas de departamentos, ou então presentes nas grandes passarelas e longe do guarda-roupa da classe trabalhadora, Vivienne Westwood se tornou uma grife importante no Reino Unido e no mundo, apesar de ter chocado os defensores da moda tradicional com as suas primeiras coleções hoje já é muito bem aceita no meio.

Dito isso podemos focar no pop punk, que nasceu nos anos 90 e se popularizou nos anos 2000 principalmente nos Estados Unidos, se encontrando também com a cultura emo dá época que resgatava elementos estéticos e musicais da contracultura dos anos 70 e 80, as músicas não costumavam carregar tanto teor político mas sim focar em problemas mais adolescentes como rebeldia, colégio, namoro, pais, festas, chegando em problemas mais pessoais como a incapacidade se encaixar e a luta contra transtornos psicológicos. O pop punk é, obviamente, muito mais comercializável musicalmente que o punk tradicional com “vocal limpo, contrabaixo com arranjo independente e guitarras pesadas em harmonia, com direito a solos curtos, porém, seguindo regras musicais, campo harmônico”. A estética também não era tão contraditória contando com roupas que poderiam ser facilmente encontradas em grandes lojas e no máximo alguns piercings e cabelos peculiares.

O pop punk é um grande marco dos anos 2000, com a estética sendo retratada ou comentada em filmes como “Uma Sexta-Feira Muito Louca”, e “Meninas Malvadas”, e alimentada pelas, até então novas, redes socias como Orkut e MySpace, era cada vez mais fácil para os adolescentes formarem comunidades, difundir opiniões e clamarem por representatividade, revelando talentos presentes até hoje na indústria, como: Green Day, Paramore, Panic! At The Disco e Simple Plan.

O gênero decaiu um pouco antes de 2010 dando espaço ao novo Grunge/Indie Rock popularizado principalmente pelo Tumblr, ficando um pouco esquecido até o final de 2020 e começo de 2021, tendo seu “revival” impulsionado por redes sociais como TikTok e Instagram onde as músicas se espalham rapidamente através de vídeos curtos, e talvez pela nostalgia já que com a pandemia muitos de nós voltamos a consumir conteúdos que nos fazem sentir seguros. Só que dessa vez o estilo reúne muito mais público e gerações, se antes o Pop Punk alcançava principalmente os adolescentes que não sentiam que se encaixavam na sociedade agora ele busca alcançar qualquer um que queira se sentir nostálgico com seus tempos de adolescência nos anos 2000 e também uma porção da Geração Z que era nova demais pra aproveitar a era.

Até agora essa volta do pop punk não buscou se afastar tanto da estética e identidade musical do pop punk dos anos 2000 o máximo que conseguimos comentar agora é o uso sem medo de delineador e de roupas largas pelos artistas, além da presença pesada da guitarra nas músicas. O movimento conta com a influência do produtor e baterista Travis Barker que vem sendo um dos grandes responsáveis por essa popularização, ele é veterano no estilo e fez diversas colaborações com artistas da nova geração como Willow Smith, Yungblud e Machine Gun Kelly.

Recentemente o gênero ganhou atenção do público geral por conta dos lançamentos de Olivia Rodrigo, a mais nova e popular artista revelação, que trabalhou com estilo musical em duas faixas de seu primeiro álbum “Sour”, Good 4 U e Brutal, provavelmente um sinal de que o pop punk vai voltar a ocupar os principais lugares das paradas musicais.